sábado, 12 de março de 2011

SOMOS NORMAIS?

A pergunta-título de meu texto teve como fonte uma reflexão que fiz sobre o tema e a correlação com nossa vida, no cotidiano.
Não sou psiquiatra. Minha formação se deu na área do Direito e o questionamento da normalidade do ser humano veio da curiosidade e do impacto que o noticiário policial nos transmite no dia-a-dia, enfocando o comportamento do homem na sociedade.
Recentemente, um alto funcionário de uma estatal, atropelou mais de vinte ciclistas que faziam uma manifestação, objetivando a limitação do uso do automóvel. Foi um ato tresloucado do motorista, somado a tantas ocorrências reveladoras de um desequilíbrio emocional, momentâneo ou não. O causador do dano, após prestar depoimento na Polícia, internou-se numa clínica, fato que me levou às seguintes conclusões: 1) Foi orientado por seu advogado, para não cair no convívio com outros presos, em cela comum; 2)Tomando consciência de seu estado psicótico, buscou tratamento. Diante de um laudo oficial, que o considerou normal, foi recolhido ao Presídio.
Apesar de alguns antecedentes reveladores de agressividade, no meio social e profissional onde vivia, ele era considerado um homem normal.
Daí, a pergunta: Somos normais?
Lembrei de meu professor de Medicina-Legal, na Faculdade de Direito, quando mencionava o conceito de homem normal, para efeitos jurídicos. Delineou uma curva no quadro-negro e afirmou que ela representava uma escala estatística de anormalidades. No meio da curva, desenhou um xis, concluindo que ali estava o conceito de homem normal. Seria, segundo ele, a média de um conjunto de anormalidades.
Recordei, então, da ocorrência da bipolaridade nos seres humanos. Ao desenvolver trabalho voluntário com esquizofrênicos, durante dois anos, tive oportunidade de conhecer de perto, o comportamento bipolar. Por mais de uma vez, me obriguei a mudar o planejamento feito para oficina de produção textual que ministrava, em razão da mudança de conduta de alguns oficinandos. O mutismo, a alteração de humor e a apatia, impediam que eu seguisse em minha rotina. Tinha que mudar o rumo traçado, criando alternativas, em consonância com o comportamento dos alunos.
Ficava, então, com a consciência afiada como uma lâmina, à espreita, recolhendo idéias para adequar à oficina.
Se o leitor fizer uma reflexão sobre o comportamento bipolar, concluirá que, em menor grau, somos bipolares, em determinadas circunstâncias. O stress, conceito criado por Hans Selye em 1936, um dos pioneiros da medicina, é causado por vários fatores. Modifica nosso comportamento, altera o humor, expressando a bipolaridade a que me referi. Não me considero dono da verdade. Apenas aproveito meu Blog para tocar num tema que considero importante e do qual muitas vezes afeta nossa conduta sem nos apercebermos.
É claro que não cabe exagerar, enquadrando o homem urbano, por exemplo, na figura do protagonista do romance de George Simenon –O Homem que Via o Trem Passar -, em que o personagem, um ser sufocado pela rotina, busca na exacerbação da violência, o sentido de sua vida até então apagada, entregando-se à compulsão de matar.
O que acontece em nosso trânsito caótico, pelo excesso de veículos produzidos em massa pelas montadoras, com seus dirigentes eufóricos pelos altos índices de vendas? Assim como é dito em nosso folclore que o gaúcho só é completo com o seu cavalo, sentimos, no mundo capitalista, a existência do Homo mechanicus, ou seja, uma inteiração do ser humano com o veículo, advindo daí um sentimento de poder em que motorista e máquina se fundem, desrespeitando as normas de trânsito e causando acidentes, muitas vezes, gravíssimos.
Não vou me alongar. Essa digressão foi para esclarecer, sob minha visão, que na realidade de nosso cotidiano, quem estabelece limites são os homens e não Deus.
Voltando ao tema-título, cito um texto de um jurista, - Prins – que diz: “Nem no moral, nem no físico, existe homem absolutamente normal. O homem perfeito é uma criação do espírito: a vontade determinando-se por si mesma, é uma concepção abstrata da razão”.

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