MAS QUE PROGRESSO É ESSE, TCHÊ?
Na Semana do Meio-Ambiente, nada mais ilustrativo do que a
charge de IOTTi publicada no jornal Zero Hora de 05.06.2013. Ela espelha bem o
que ocorre no Brasil, onde a dizimação da Mata Atlântica serve para abastecer
siderúrgicas que produzem o aço, que alimenta a indústria automotiva cujos
veículos saturam nossas ruas, afetam nossa saúde, com a emissão do monóxido de
carbono, e causam acidentes com mortes ou danos irreversíveis aos seres
humanos.
Os pichadores que abominamos e grafiteiros, que admiramos,
pintaram os muros da Fundação Pão dos Pobres, no bairro Cidade Baixa, em Porto
Alegre. As duas imagens, abaixo expostas, dão idéia da ação predatória do homem
e de suas conseqüências.
Em nossa cidade, um dos crimes ambientais praticados pelo
Poder Público Municipal com aprovação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre,
ocorreu dois anos atrás, quando retiraram do Parque Marinha do Brasil, inúmeras
árvores, mesmo sob protesto dos moradores do Bairro Menino Deus. Muitos, eram
eleitores de nossos representantes no parlamento municipal. Agora, com o
beneplácito da Justiça, cortaram grande número de árvores, com o mesmo
objetivo, qual seja, a realização da Copa do Mundo de 2014. As fotos abaixo dão
uma idéia do que significa “progresso” para os gestores públicos.
Mas, afinal, o que é esse tal de “progresso”? Segundo
Aurélio, em seu Dicionário, encontramos: “marcha para adiante”, “evolução”,
“melhoria”, “civilização”. Este último conceito motivou minha reflexão. Será um
ato civilizado “atapetar” nossas vias públicas com asfalto, reduzindo a
dimensão de bueiros e bocas de lobo, aumentando a possibilidade de alagamentos?
Mas, a maioria dos cidadãos, aplaude a medida. Os carros rolam mais macios, a
velocidade pode ser maior, (apesar dos riscos de acidentes), não importa que no
verão de mais de 40 graus, o asfalto quase derreta, emitindo aquele odor
característico do petróleo, nossa riqueza. Enfim, o carro é prioridade, as
árvores são acessórios descartáveis, em nome do “progresso”.
Voltando à produção automotiva: o Governo reduz impostos
sobre a venda de caminhões e carretas, que inundam nossas estradas, ao invés de
investir em ferrovias e transporte fluvial e marítimo, menos poluente.
E o futebol? Ah o futebol. Durante o período da ditadura
militar, uma Copa do Mundo fez com que a maioria dos cidadãos esquecesse o
autoritarismo reinante, a tortura de cidadãos, o exílio de cabeças pensantes e
fechamento de entidades de estudantes, impedidos de exercer cargos na política,
espaços então ocupados por pseudo-representantes do povo, verdadeiras
mediocridades oportunistas. O “ópio do povo” continua a justificar prioridades,
como o destino de bilhões de reais para a construção ou reforma de estádios, em
detrimento da saúde pública no país. Não vou negar que todas essas obras geram
empregos. Mas e depois da Copa? Se os recursos fossem aplicados na construção
de hospitais, contratação de médicos, enfermeiros, aquisição de equipamentos
hospitalares, acredito que a relação custo-benefício representaria um salto de
qualidade no caos que é o péssimo atendimento dos pacientes do SUS.
Sei que me alonguei na abordagem do problema e não consegui
abranger tudo o que está sendo negligenciado na defesa do Meio-Ambiente, em
cuja semana nos encontramos. Vivemos em dois Brasis, com inundações e secas em
seus extremos que poderiam ser resolvidas, se as verbas destinadas aos projetos
para amenizar aqueles problemas cruciais, chegassem ao seu destino. Alguns
políticos corruptos são os responsáveis. Nós os elegemos, mas fomos enganados
como estão enganados todos aqueles que acreditam que a derrubada de árvores,
reduzindo a oxigenação da cidade, o asfaltamento de ruas, a mudança de projetos
viários, resolverão os problemas do trânsito de Porto Alegre. Como último
argumento, respeitando opiniões contrárias, entendo que o crime ambiental
cometido junto à Usina do Gasômetro e que será perpetrado na Avenida Tronco,
onde se prevê o corte de mais de mil árvores, poderia ser evitado, com melhores
projetos de engenharia de tráfego, mesmo que mais onerosos, pois a vida humana
não tem preço e depende da harmonia ambiental, hoje desequilibrada pela ação
predatória do homo sapiens.